EXERCÍCIOS SOBRE CONCORDÂNCIA VERBAL (Língua Portuguesa – Ensino Médio – 3º ano)

Leia o poema a seguir, de Ferreira Gullar, escrito durante o período do regime militar no Brasil:
Dois e dois: quatro
Como dois e dois são quatro
sei que a vida vale a pena
embora o pão seja caro
e a liberdade pequena
Como teus olhos são claros
e a tua pele, morena
como é azul o oceano
e a lagoa, serena
como um tempo de alegria
por trás do terror me acena
e a noite carrega o dia
no seu colo de açucena
− sei que dois e dois são quatro
sei que a vida vale a pena
mesmo que o pão seja caro
e a liberdade, pequena.
(Toda poesia. 18. ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 2009. p. 171.)

1. Leia a seguir um depoimento de Ferreira Gullar, dado na Bienal do Rio de Janeiro, em 2009, no qual ele comenta sobre a situação em que esse poema foi escrito:

Muitos amigos estavam presos, muita gente sumiu, então havia um grande desapontamento em todos nós, que tínhamos lutado pela reforma agrária, pela mudança das condições do país […] Então esse poema foi escrito um pouco pensando nas pessoas que estavam presas e em tudo, em todos nós que estávamos perdendo o ânimo […].
A.  A 1ª estrofe apresenta uma síntese das ideias principais do poema. Considerando o contexto social e político em que o poema foi produzido, explique o sentido dos versos “embora o pão seja caro / e a liberdade pequena”.
B. Tendo em vista o momento caracterizado por Gullar, conclua: O que expressam os dois primeiros versos dessa estrofe?
C. Segundo o depoimento de Gullar, a quem ele se dirigia com seu poema?
2. Embora em seu depoimento Gullar tenha explicitado a quem se dirigia com seu texto, no poema o eu lírico se dirige especificamente a um “tu”, que aparece em meio a uma comparação.
A. Levante hipóteses: Quem é o tu a que o eu lírico se dirige?
B. Com o que o eu lírico compara os elementos trazidos na 2ª, na 3ª e na 4ª estrofes?
3. No poema em estudo, o eu lírico faz uma queixa em relação à situação vivida naquele momento.
A. Por essa queixa, é possível considerar que a postura do eu lírico é pessimista?
B. Para o eu lírico, ainda há esperança de melhoria da situação? Justifique sua resposta com um verso do poema.
4. Releia a primeira e a penúltima estrofes.
A. A quem se refere a forma verbal sei?
B. Reescreva esse verso, explicitando o sujeito.
C. Se o eu lírico escrevesse em nome de um coletivo, incluindo-se nessa ideia de coletividade, identifique, entre as construções a seguir, a mais adequada, de acordo com a norma-padrão. Justifique sua escolha.
I. Nós sabe que a vida vale a pena.
II. Eles sabe que a vida vale a pena.
III. Nós sabemos que a vida vale a pena.
IV. Eles sabem que a vida vale a pena.
5. No 2º verso da 2ª e da 3ª estrofes, há uma elipse do verbo, isto é, ele foi omitido.
A. Reescreva-o, explicitando o verbo em sua forma de acordo com a norma-padrão.
B. Identifique, em cada um desses versos, qual é o sujeito e em que pessoa e número estão as formas verbais.
6. Releia os seguintes trechos:

I. “Dois e dois são quatro”
II. “Teus olhos são claros”
III. “É azul o oceano”
IV. “A noite carrega o dia”
A. Qual é o único trecho que não segue a ordem padrão do português escrito (sujeito + verbo + complemento)?
B. Coloque-o na ordem padrão.
C. Quais formas verbais estão no singular e quais estão no plural? Justifique esse emprego.
D. Reescreva-os segundo a norma-padrão, substituindo:
• Dois e dois por Essa soma
• Teus olhos por Teu olhar
• O oceano por os mares
• A noite por Os luares
E. Compare os versos originais aos versos escritos por você no item anterior e conclua: O que aconteceu com as formas verbais?
7. Releia a 4ª estrofe.
A. Coloque-a na ordem padrão do português escrito e levante hipóteses: Por que o poeta não escreveu o verso nessa ordem?
B. A que ou a quem se refere a forma verbal acena?
C. Explique por que a ideia dessa estrofe confirma o que foi dito na 1ª estrofe.
8. Compare a 1ª estrofe às duas últimas. Discuta com os colegas e o professor e conclua:

A. Qual efeito de sentido é criado pela repetição da forma verbal sei na penúltima estrofe?
B. Nesses versos, foram empregadas as conjunções concessivas embora e mesmo que. Uma concessão é considerada uma atitude aparentemente contrária ao previsto ou esperado. Qual é a atitude esperada de uma pessoa que vive no contexto sóciohistórico do poema?
RESOLUÇÕES:

1:
A) Esses versos remetem à situação desfavorável vivida à época, na qual o custo de vida era alto e as pessoas não tinham liberdade de expressão nem liberdade política.
B) O desejo do eu lírico de levar ânimo às pessoas à sua volta, afirmando sua previsão positiva para o futuro como uma certeza e garantindo que ela é tão certa quanto um cálculo matemático.
C) À sociedade em geral, às pessoas que se viam sem esperanças na vida e no futuro.
2:
A) Possibilidades variadas de resposta: A uma pessoa querida que se encontrava distante ou que estava muito desanimada com a situação e a quem ele gostaria de encorajar.
B) Com a sua certeza de que a vida vale a pena.
3:
A) Não.
B) Sim, o que pode ser comprovado com o verso “Sei que a vida vale a pena”.
4:
A) Ao eu lírico, à voz do poema.
B) Eu sei que a vida vale a pena.
C) A construção III, pois o verbo concorda em nome e número com o pronome “nós”.
5:
A) e a tua pele é morena; e a lagoa é serena
B) Sujeitos: a tua pele e a lagoa; verbos na 3ª pessoa do singular.
6:
A) O III.
B) O oceano é azul.
C) I e II estão no plural e III e IV, no singular, concordando com seus respectivos sujeitos.
D) Dois e dois por Essa soma: Essa soma é quatro. 
     Teus olhos por Teu olhar: Teu olhar é claro.
     O oceano por os mares: Os mares são azuis.
     A noite por Os luares: Os luares carregam o dia.
E) Elas mudaram para o plural ou para o singular, acompanhando o número do sujeito.
7:
A) como um tempo de alegria me acena por trás do terror / Ela foi escrita em ordem diferente para manter a rima e a métrica do poema.
B) Ao sujeito simples “um tempo de alegria”.
C) Porque reforça a ideia de que a vida vale a pena, embora o presente não seja tão favorável, uma vez que um tempo de alegria vai chegar.
8:
A) A repetição da forma verbal enfatiza que o eu lírico de fato acredita no que diz, reforçando sua aparente certeza.
B) É esperado que uma pessoa que viva em um contexto no qual a liberdade é pequena e o pão é caro não acredite que a vida valha a pena.